quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Dono




Quero tirar isso de mim
Entregar por aí.
Divulgar que precisa de dono
Isso que mora aqui.
Quero o que nunca tive,
Isso o que não tenho mais,
Aquilo o que pensei um dia ter.
Quero tudo misturado,
Todo sonho já sonhado,
Realizado, em meu sofá.
Que todo o meu espaço
Esteja ocupado,
Vazio de vento.
Lotado.
Que a minha sopa
Termine na metade,
E quero tirar cópia
De todas as minhas chaves.
Quero abrir as portas,
Para deixar entrar,
E deixar sair
O que está aqui,
Que é só meu.
Se é só meu, não serve,
Só aqui, não cresce.
Só pra mim, não há.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Castelo de areia




Foi lindo
Quando as mãos se acharam
E os olhos se encontraram.
Foi conto de fadas.
Tão cor-de-rosa,
Tão pó de pirlimpimpim.
Castelo de areia.
Se vivia e não se via
Que não seria.
Não foi.
Ela se foi
E um pedaço ficou.
Todo ele ficou,
Construindo castelos.
Sufocada na areia,
Ela perguntou:
“E o coração?”
Ele nem hesitou:
“Vazio”.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Meu




Mas não escuto sua voz,
As palavras não te pertencem:
Quem fala é a distância:
O sussurro do impossível
Te invade,
Te consome,
Te ilude,
Me coloca exatamente ali
Onde eu sempre quis estar.
Nesse lugar que sempre tangi,
Que vislumbrei,
Que tanto desejei
E mereci.
Mas que nunca foi meu.
Jamais me pertenceu
Esse tudo que me oferta
É um insulto,
Uma afronta,
Uma pena.
É o futuro do meu passado,
É o futuro do seu vazio.
Meu lugar não quero mais.
Meu lugar é o recomeço.
Só quero lugar
Que me quiser possuir.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Quebra-cabeça




Será que dá
Pra misturar
Fazer um guisado
E servir quente e temperado?
Não é nada demais,
Nem quero tanto assim,
Só um tiquinho de cada,
No prato,  pra mim.
Os olhos daquele,
As palavras desse,
O cheiro do que estava de passagem.
A segurança daquele de lá,
As mãos desse outro
(e pernas, e braços, e boca...),
A malandragem daquele
Que nunca ficou.
O jeito de me olhar
E de me cuidar
Do que quase não foi
E as mentiras,
Daquele que sabe quem é.
As melhores,
Mais deliciosas,
Bem contadas e tão caprichadas,
Que de tão primorosas
Merecem ser contadas
E recontadas
Porque antes de más,
Eram tão gostosas...

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Única




Quero de novo
Sentir tudo me tomar.
Na mistura de fôlegos,
Saber o que posso ser,
Saber que posso ter
De novo o que já foi meu.
Sentir-me única,
A última,
O outro ingrediente,
Tudo o que não estava.
Quero mais.
Mais sabor do que vi,
Mais cores do que senti.
Que me abrace depressa,
Me prove devagar,
Me leia com astúcia,
Domine meu pensamento
E me perceba como sou.