sábado, 21 de janeiro de 2012

Respingos



A fome é tamanha,
O desejo: sem fim.
Essa vontade sem medida,
É gula,
Vaidade,
Luxúria.
Busca aflita.
Causa ansiedade,
Descontentamento,
Alienação.
Os instantes passam,
Como se nunca tivessem sido.
Os ligeiros prazeres,
Como se não fossem.
A vida passa.
E, dentro dela,
Também passam
Respingos de prazer.
Desdenhados,
Por não serem oceanos.
Tão pequenos,
Passageiros,
Corriqueiros,
E até banais.
São discretos,
Quietos,
Leves toques,
Que podem
Ser muito mais.
Detalhes que rasgam
A rotina da vida,
Arrancam um sorriso
E entrecortam o momento,
Não nos arrancam suspiros,
Nem rasgam nossas roupas.
Não nos tiram para dançar
Em meio à multidão.
Entretanto, agora mesmo,
E quando não esperamos,
Nos acariciam,
Esses dedos do acaso,
Sem nenhuma expectativa,
Sem pedir nada em troca,
Sem nenhuma pretensão.
Deixa essas mãos te tocarem,
Esses respingos te molharem.
Permita-se banhar.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Renascimento



Chega pra lá,
Abre caminho,
Não consigo respirar.
Não posso me mover
Nesse espaço pequeno,
Nesse vazio cheio de nada,
Sufoco,
Afogo,
Transbordo.
Não, não se aproxime.
Não quero socorro
Nem guarida.
Não desejo refúgio
Tampouco que venha ao meu resgate.
Não agora.
Outrem?
Também não, obrigada.
Quero perder o fôlego,
Os sentidos.
Vou prender a respiração
Até que eu possa renascer.
Não caibo mais aqui...
Vamos, afasta,
Abre espaço.
Não mais me encaixo
Nesse mundo
Criado por mim.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Anjo caído



Sem sentido,
Sem razão.
Simplesmente sem explicação.
Por que você?
Já não sei mais.
Me dê um motivo
Para que eu me lembre
Para que eu não pense
Que você é irreal,
Meu produto,
Meu fruto.
Criado por mim,
Nunca existiu de fato.
Sim, é de carne e osso.
Posso te ver,
Te tocar,
Te sentir...
Posso te sentir?
Já não sei mais.
Acho que foi criado.
Meticulosamente desenhado.
Sabe aquele instante
Onde tudo conspira,
Estrelas se alinham
E um coral de anjos canta?
Pois é... acho que não existiu.
Acho que você é que um anjo,
Um anjo torto, que aqui caiu.
Tropeçou nas estrelas,
Porque não estavam alinhadas.
Esbarrei com suas asas no caminho...
E não vi que já estava caído.
Foi aí que fiz tudo acontecer.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Medo



O medo de perder
O que não me pertence,
De avançar esses limites
E tocar o imaginário,
Afasta você de mim.
Receio ir longe demais
E te ver fugir
Ou simplesmente não ir
E te sentir escorregar,
Escapar,
Derreter.
Quero gritar
Baixinho em seu ouvido,
Pedir que me acolha
Que me puxe até você.
Mas o medo me detém,
Agarra-me com mãos fortes,
Condena meu corpo
De volta à solidão.
Não consigo ao menos sussurrar
O que minhas entrelinhas berram:
É com você que durmo,
Só você quem quero.

domingo, 1 de janeiro de 2012

(Não) Vá



Apenas vá.
Se tem que ir,
Então que seja.
Me esqueça,
Desapareça.
Não pedirei que esteja
Onde não deseja.
Saia e não volte.
Solte minhas mãos,
Liberte meus pensamentos.
Siga seu caminho,
Conquiste outro espaço,
Desenlace nossos laços,
Para que possa caminhar.
Só peço que não me leve,
Que deixe meus pedaços,
Que não leve meus passos,
Que devolva minha alma.
Mas, antes, espera,
Antes que suma,
Tenho algo a falar:
Por favor, não vá...