sábado, 24 de março de 2012

Inevitável



É o jeito que me olha,
Com esses olhos
De ninguém mais
E em um segundo só
Me entende,
Me surpreende,
Tira o chão dos meus pés,
Me arranca do mundo,
Me despe.
Já não quero me vestir.
É o jeito que me vê:
Muito mais do que sou,
Do que sabe que sou,
Como aquilo com que sonha,
Caricaturando minhas qualidades,
Desvelando as verdades
Que me fazem sorrir.
Então, quando me toca,
Já não há mais volta.
Me faz dona do seu mundo,
Ao se tornar todo o meu.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Inspiração



E quando inspirei...
Segurei,
Me concentrei,
E até achei
Que era meu,
Só meu,
Todo meu,
O ar que prendi.
Mas foi aí
Que ele pesou,
Brigou dentro de mim
E esperneou pra sair.
Foi quando entendi
Que era só minha vontade
Mais uma daquelas
Impossíveis de existir.
Nunca foi meu
O ar que um dia esteve em mim.
Da próxima vez,
Não inspiro tão profundo assim.

domingo, 11 de março de 2012

Suspiro



É como um suspiro
Longo, profundo,
Daqueles muito desejados
Quando estamos sem ar.
O mesmo suspiro
Que aguarda uma notícia
A mais esperada.
Paralisamos por um momento
E, finalmente: alívio...
Voltamos a respirar.
É como esse suspiro,
Agora que você está.
Agora que chegou,
É tudo presença,
É tudo verdade.
Então fica, demora,
Esquece e adormece
Nesse lugar que você já reclama.
Sinta como tudo se encaixa,
Como parece
Que sempre foi assim,
Então não cuida mais de nada.
Vem cuidar só de mim.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Presença


E foi assim.
Sem explicação,
Sem trajes de baile
Ou elaboração.
Em instantes, o então tácito
Tornou-se claro
Como um dia de verão.
E tudo se aqueceu em mim.
De repente, veio você.
Contudo, você nunca chega.
E já ocupa cada canto,
Todo espaço quer lhe pertencer.
Nunca me vi sendo vista
No entanto, me sinto desnuda,
Me sinto descoberta,
Não quero me cobrir.
Nessa multidão que me cerca,
A presença da sua ausência
Pesa sempre mais
Que qualquer outra presença.
Sinto sua respiração em mim.
E mesmo que nunca esteja,
Não poderia estar mais aqui.