sexta-feira, 29 de julho de 2011

Outra


Num outro universo
Não sou essa que estou.
Não choro em demasia,
Ou sorrio sem medidas.
Lá, minha voz não se altera,
Meu caminho não tem curvas,
Minhas surpresas são planejadas
Minha hora é sempre marcada. 
Nesse outro universo,
Sou alguém que não sou.
Uma parte que me reconheço
Quando em um bater de asas de borboleta
Entro em metamorfose,
Distancio-me da inconstância,
Da eterna alternância
De quem constantemente sou.
Nesse lugar que não existe,
Afasto-me de mim,
Apago as cores do mundo,
Suprimo meus sonhos.
Ainda assim, viajo para lá:
Isolo meu ser, 
Guardo tudo o que tenho,
Protejo-me.
E em um bater de asas de borboleta,
Volto a sonhar.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Silêncio


Se eu calo,
Não é um vazio,
Não silencio
O meu pensamento.
O eco do não dito
Pode ressoar mais alto,
Pode subverter um grito,
Pode traduzir o desabafo mais aflito.
Quando calo,
Aceite meus olhos,
Meus braços e mãos...
Agarre o que houver.
Leia meu corpo,
Entenda meu alfabeto,
Queira qualquer afeto,
Sirva-se de mim.
Não procure por palavras:
Tão rasas,
Quase nunca exatas,
Tão escassas.
Sua caça
Pela presença de som
Torna-me indócil,
Desejosa de asas,
De vento,
De mundo.
Então mergulhe em meu pseudo-vazio,
E em meio ao meu silêncio,
Respire o que sou,
Escute meu nada,
Inebrie-se de mim.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Céu


Quando pequena,
Habitava mundos,
Inventava cores
Que dispensavam compreensão.
Imergia em sonhos,
Emergia sabores
Quase palpáveis,
De todos formatos,
Sempre pedaços
Da minha mais linda quimera.
Cada lágrima mutava-se em estrela,
Cada estrela iluminava um novo céu,
Que sempre beijava o oceano
Em um movimento de carícia sem fim,
Que tomei por completo.
Aprendi.
Quis para mim.
Desejei.
Tornei-me céu.

sábado, 2 de julho de 2011

Sonho


No mar, um coral de pérolas
Beija e acaricia as caudas das mais belas:
As sereias desenham no vento
Melodias suaves, intensas como a tempestade
Que vem do infinito,
Quando escrevem acordes na água, na areia, no ar:
Só para mim.

No céu, duas luas toda noite,
Cada uma em fases distintas;
Constelações de purpurinas
Iluminam todo o universo;
E estrelas cadentes
Em queda livre, suicidam-se:
Só para mim.

Na terra, um jardim de flores-de-lótus
Coberto por fadas multicores
Que bailam ao som de sua respiração
E exalam sutis sensações singelas
Que afagam a aflição de quem se entrega.
Elas morrem ao sol se pôr e renascem ao dia nascer:
Só para mim.

Logo ali, um sonho só meu.
Tão palpável, tão nebuloso....
Realidade ou quimera?
Quisera saborear cada recanto do meu delírio
Andar por cada caminho, me perder, e encontrar.
Contudo, acordo: só em sonhos mudo o mundo,
E me transformo só para mim.