sábado, 26 de maio de 2012

Inconstante



Gosto
Do meu gosto,
Do meu rosto
No espelho.
Me transformo
A cada tombo,
A cada choque,
A cada chuva
Escorro
E recorro
À minha própria
Reconstrução.
Não sou a mesma:
Não sou aquela
Que entreviu.
Não espere
Que me apresente
Como almeja
Como deseja
Seu ego,
Seu éros,
Seu elo
Que o liga a mim.
Nem eu sei
Qual será
Minha próxima
Estação.
Meus deslizes
São resultado
De empreitadas,
Experimentações,
Mancadas;
São como sei
Que sou feliz.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Aviso prévio



Eu te avisei, meu amor,
Disse que seria exatamente assim
Que quando esse instante chegasse,
Esse no qual você não me cuidasse,
Eu mesma cuidaria de mim.
Você já sabia, meu bem,
Que culminaríamos nessa estação,
Que esse inverno chegaria
E que eu não seria sua proteção.
Eu falei que não mais gritaria,
Não me agarraria ao seu peito
Em busca de abrigo seu.
Sim, você sabia
Que todo meu fogo diminuiria:
Aquele destinado a você.
Enquanto eu sussurrava em seu ouvido
Palavras de “vem pra mim”,
Enquanto eu te pedia pra ficar
E pra se doar do começo ao fim,
É que então, eu era apenas sua,
É que ali, eu fazia questão.
Mas eu te avisei, meu amor,
Para você me querer também,
Sussurrar em minha pele,
Desejar cada pedaço meu.
Você me quis de menos
E eu te quis demais.
E eu te disse
Que só brinco de igual pra igual.
Agora já não sei como me quer,
Já pouco importa.
Você é pouco homem para mim.
E eu sou pouco daquela que fui.
Sou muito mais mulher.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Exposta



Hoje me namorei.
Me olhei devagar,
Me senti sem pressa.
Descobri novos sabores
E novos gostos em mim.
Fugi comigo,
Para onde, não sei.
E me revelei
Só para mim.
Fui me deixando despir
De partes do que sou,
Arrancando o que ainda
Insistia em ficar.
Queria deixar pedaços,
Mas não queria rastros.
Não quis marcar caminho,
Não pretendia voltar.
Queria trocar de pele,
Deixar por lá esse peso
Esse aperto,
Esse apelo.
Metade de mim
Ficou por lá
E voltei
Enamorada de mim.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Partida



Vou repetir,
Só pra te lembrar:
É que eu tô indo embora,
Vou cuidar de mim.
Agora, já não demora,
Não estarei por aqui.
Mas estou indo antes da hora,
Aos poucos sinto
Que já não estou.
Você não me prende,
Não faz questão,
Não me tem de verdade.
É tudo quimera...
Quem dera, fosse real.
Aos poucos, me empurra
Exatamente na outra direção.
Antes que eu vá para onde vou
E deixe aqui tudo o que sou,
Muito antes disso,
Você já afasta
Tudo o que poderíamos ter sido,
Tudo o que há em mim,
Da ideia de nós dois.
Você me deixa escapar.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Nuvem



Se fosse
De algodão-doce,
Eu comia.
Mas é prenúncio de chuva,
Mudança de tempo,
Aviso que o tempo
Está prestes a virar.
O que antes era azul,
Agora é nublado.
Essa nuvem
Que agora mora em mim
É teimosa e egocêntrica
Reclama meu céu pra si.
Mas sempre
(ou de vez em quando),
Quando sonho com o dia de sol,
Empurro ela pra lá,
Ainda que só em pensamento.
E não é que ela se esconde?
E por algum tempo,
Indeterminado,
Por um tempo
Que não sei medir,
Finjo que nunca houve nuvem,
Finjo que era algodão-doce,
Que alguém deu bobeira
E eu comi.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Limites



É aquela vontade insana,
De sair na chuva
E dançar.
De gritar
Quando se chora.
De tomar sorvete sem pá.
De fazer birra,
Ficar manhosa
Só pra assustar a doença.
Mas não sou mais criança.
Não cabe, não dá.
São muitas vontades,
Poucas possibilidades.
Interferem a vaidade,
A razão, o medo.
Há linhas invisíveis
Que não posso ultrapassar.
É querer ir para a última página,
Antes do livro começar,
E crescer o desejo
Quando a história desanda.
Não há controle,
Sobre histórias escritas.
Não somos titereiros
Nas vidas que formam nossa vida.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Menos



Deitou e rolou,
Fez festa,
Se lambuzou.
Mas olha, tá tarde.
Vamos parar?
Cansei.
Não quero mais brincar.
Tô ficando zonza,
Sem ar.
Não quero dar conta
Desse excesso de teoria,
Dessa falta de prática.
Nessa falta de apego,
Ausência de zelo,
Não sou eu que perco,
Afinal,
Já sei fugir do cerco,
Eu não mais me perco,
Já me encontrei.
Já não sofro pelo seu apreço:
Quem perde é você.
Te avisei que sou espelho
Que só repito o que vejo.
Te queria como louca,
E você me quis tão pouco.
Chocolate já me satisfaz.
Você não soube me descobrir,
Não acolheu metade,
Nem uma quarta parte,
Do que eu tinha para dar.
Te desejei demais,
A cada hora,
Respirei seu gosto,
Decorei seu rosto.
Avisei que sua demora
Me faria recuar.
Agora, o que sinto,
Já não é nada tão assim.
Veja bem:
Não é que não te queira,
É só que quero bem mais a mim.
É só que sou bem mais eu
E menos... bem menos você.