segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Eva



Os meus pecados?
São meus.
Estão trancados,
São invisíveis.
Não macularei sua silhueta
Ou pintarei suas faces
Ao desenhá-los a outrem.
Meus pecados têm sabores:
São doces,
Amargos.
São picantes e salgados.
Não são contáveis,
São imensuráveis,
Dissimuláveis,
Indissolúveis.
Nunca sei quando serão:
Não avisam sua chegada.
Certos deslizes são sementes de prazer:
Convidam um sorriso
A dançar no canto da boca
E atiçam as borboletas
Que brincam dentro do estômago.
O frio na barriga,
Ao sentir o chão escorregadio,
É o que me faz realizar:
Estou desperta.
Percebo-me.
Sou dona de mim.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Templo



Em mim, um templo.
Que ecoa,
Que acolhe,
Que não escolhe
O que me encontra.
Tudo o que envolvo,
O que me toma,
Me transforma,
Marca um tempo em mim.
O alheio
Dentro do meu centro,
É um vislumbre da colisão,
Da imersão,
Do novo que me invade.
Sou um templo.
Em mim, todo momento
Inunda.
É guardado.
É sagrado:
Se assim for.
No templo em mim
O eco se faz presente,
Mesmo quando a voz cala.
Os passos não se apagam,
Não andam para trás:
Perdem o caminho
De volta aos pés cansados.
O intacto templo
Onde ninguém jamais esteve,
Onde voz nenhuma antes ecoou,
Aquele nunca visitado,
No passado, adormece. 
Não posso retroceder
Nem mesmo um piscar
Do momento no qual estou.