sábado, 28 de maio de 2011

Sua



Hoje acordei sua.
Em braços tão seguros,
Que pendiam entre abraço e prisão.
Hoje acordei insegura.
Desejosa de vida,
Carente de mundo,
Ardente por céu, jardins, arco-íris, canções.
Olhei pra você,
E não vi.
Toquei suas mãos,
E já não pude sentir.
Mãos, olhares e palavras
Gritaram o momento
Que há tanto ameaçava se cristalizar.
Parte de mim queria te ver ir.
Parte de mim não consegue me desprender.
Assistir você partir...
Imaginar você ficar...
Qualquer movimento me consome,
Me invade,
Me agride,
Arranca um pedaço de mim
Que eu não sabia existir.
Me toma por completo,
Me leva em todas direções.
Sempre soube que seria assim.
Nunca soube que seria tanto.

Hoje acordei sua.
E adormeci só minha.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Recomeço


Quando primeiro eu me perdi,
Os labirintos por onde andei,
Os desvios que encontrei,
Me levaram até mim.
Em caminhos menos seguros,
Descobri que não sei quem sou.
Ouvi outras cores,
Enxerguei outros sabores,
Saboreei outros sons.
Quando finalmente me perdi em mim,
Finalmente vivi.
Finalmente compreendi:
Não há lógica
Nem maneira que se possa
Significar.
Não há razão
Que possua voz para gritar.
Senti a brisa me tomar,
Colidir com tudo o que há em mim,
Convidativa, querendo dançar.
Meu corpo a beija e deseja acompanhar.
Nessa colisão, mergulho mais em mim.
E em meio à imensidão do vazio,
Em meio ao silêncio ensurdecedor,
Me deixei afundar, pulsar,
Para recomeçar...
Em um oceano sem fim.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Despedida



Não quero mais esse lugar
Esse cheiro de passado
Nos livros, pela sala
Traz memórias encardidas
Me obriga a recordar.
Não quero mais essas paredes
Esse branco que me cega
Esse quadrado que me cerca
Já não quero me enquadrar.
Já não quero adentrar
Pelo quarto, pelas entranhas
Do que sobrou de mim e você.
Suas impressões sobre mim
Suas impressões sobre meu corpo
Quero lavar, esquecer, arrancar
Quero raspar da minha pele
A sensação de você.
Quando eu saio pela porta
Não me importa se o teto cai
Se no jardim a última for,
Finalmente floresceu.
Não quero mais nenhuma casa.
Sou a dona a rua
Meu teto é a lua
Quero ser outra de mim
E achar um novo você.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Muitas


Não me defina
Com essa fotografia fina
Que afaga sua auto-estima.
Retire as tiras
Que rotulam minha ira
Que contra mim atira.
Não me rotule
Não me anule
Afirmando que sou uma só.
Me desconstrua
Me construa inconstantemente
Me queira nua.
Não me defina:
O meu nome assina
Muito pouco do que sou.
Sou muitas, sou tantas
Sou tudo e sou nada
Não sou mais do que sonhou.
Contudo, sou o mundo
Sou o lúdico e o absurdo
Posso ser mais do que vislumbrou.
Rasgue meu manto
Penetre meus meandros
E saboreie um pedaço das tantas que sou.