sexta-feira, 27 de abril de 2012


Só quero
Que me queira
Com cada célula,
Cada poro,
Cada pêlo.
Que seu apelo
Seja imoral.
Apenas desejo
Que me beije
Como se o mundo
Não fosse durar,
Como se ele fosse
Algodão-doce
Na mão de uma criança
Que quer sua boca
Adocicar.
Quero que em mim pense
A cada pensamento
Que pense em mim
Muito mais
Do que pensa em você.
Só quero mesmo
Que num ato falho
Repita meu nome.
Que desaprenda a respirar
Que sua lógica não exista
Quando se imagina sem mim.
Só quero
Que olhe para mim,
Para mim, só.
Quero tão pouco.
Quero isso.
Mas não isso, só.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Apetite



É que não me contento com pouco,
Sei o limite do outro
E, ainda assim, quero mais.
É que mereço exagero,
Mais que o mero apreço
De outro mortal.
Quero que me tome por completo:
A goles,
Tragadas,
Mordidas,
Bicadas.
Quero que a cada bocado
Aprenda o gosto
De cada canto,
Cada pedaço,
Cada parte de mim.
E que não queira só me provar: 
Nada em mim é efêmero,
Mas estou só de passagem.
Nessa minha viagem,
Embarque, ou me deixe caminhar.


segunda-feira, 16 de abril de 2012

A menina na casa II



Sabe a menina
Dentro daquela casa,
Que não sabia pra onde ir?
Pois é, cresceu.
Saiu de lá...
E se perdeu.
Para seu próprio bem.
Não se arrependeu.
Cortou os cabelos,
Fez tatuagem,
Aprendeu a viver,
A não levar tudo tão a sério,
A fazer bobagens.
Depois de alguns tropeços,
De testar arremessos,
De vários caminhos tomados,
De certos corações roubados
E alguns corações partidos
(dela e de outros também),
Ela finalmente aprende,
A cada dia que se passa,
A cada joelho machucado,
Que nem todo passo é um contrato,
E que um olhar aprisiona a mente.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Confessionário



Sou intensa, exagerada, uma hipérbole personificada. Sei que sou. Não amo pela metade, não quero uma parte: só quero por inteiro, ou então, não quero mais. Até quero, mas prefiro não ter. Se for pra viver, que seja intensamente, com cada detalhe, sentindo todo toque e cada sabor. Se for pra gargalhar, que seja alto, com vontade, sem medo e sem pudor. Não seguro risadas. Rir está na descrição da minha função como ser humano. E é a tarefa que cumpro com mais prazer. Nem preciso de fiscalização. Rio até mesmo quando apenas em minha própria companhia. Vejo graça nas pequenas coisas da vida. Não passo um dia sem sorrir, e nunca é esforço para mim. Se eu sou sempre a mesma? Nunca. Sou muitas. Sempre. Digo e repito, já virou discurso de político. Sou adaptável, não mudo por ninguém, mas busco, sim, me lapidar, ser alguém melhor a cada dia, por mim. Mas também pelas pessoas que amo e que me envolvem. Hipocrisia dizer que não. Minha lista de defeitos não é nada pequena. Sou imperfeita e não me orgulho disso. Não pretendo ser perfeita, entretanto dói quando machuco quem amo. Quando decepciono. Quando deixo a desejar. Sou impaciente e ansiosa, sou perfeccionista, metódica e geniosa. Atenção, mimo e inteligência tiram os meus pés do chão. Dentro de mim sou 10% gente e 90% vontades... Contudo, não sou curiosa, não futuco sua semana, não vasculho seu armário, não sou invasiva. Quero saber tudo sobre o que tem a me dizer, mas apenas o que quiser me contar. Tenho meus amigos em um recanto intocável em meu coração e desejo que a moradia deles ali seja eterna. Intensa, lembra? Também desejo que eles me queiram da mesma forma: pra sempre. Gostaria de ter a mim mesma como amiga. Saberia que posso contar comigo em qualquer planeta, até em Plutão, mesmo que ele não seja mais um planeta. Se houvesse uma competição, seria a campeã em guardar segredos. Uma caixa que nunca foi dada a Pandora.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Cura



Não quero apenas estar,
Não quero figurar
Nesse momento
Que envolve você.
Um segundo depois,
Não sei mais quem sou
Já não sou,
Não tenho chão,
Pois sempre me visto
Do instante que inventa.
Já não existo.
Não quero estar:
Quero ficar,
Morar,
Quero ser,
Viver seu presente,
Ser o centro dos seus planos,
O seu cotidiano,
Sua rotina mais saborosa.
Não quero ser escolha.
No entanto, me esgota.
É cansativo esse desejo.
Exaustivo querer ser só sua.
Desejar ser o centro,
O objeto da sua cobiça.
Já não sei se é merecedor.
Vou me curar,
Me vacinar
Contra essa vontade de você.

Improvisado









Por que apareceu?
Pra que me envolveu,
Me fazendo acreditar
Que podia ser,
Que era pra ser?
E aí decidiu ficar:
Trouxe malas,
Roupas de cama,
Passado, presente e futuro.
Trouxe tudo de uma vez.
E como é que recém-chegado
Já reclama seu lugar,
Como se soubesse
Que sempre fui sua,
Como se se entregasse
Só para mim?
Por que acha
Que pode me arrancar
De tudo o que sempre fui?
Tirar meus pés do chão,
Me elevar a outro universo,
Me inundar de você?
Por que não fica de uma vez?

terça-feira, 3 de abril de 2012

Pedaços




Não me pergunte
Quem sou
Só conheço
A outra parte de mim.
Não sou aquela
Que desejou.
Sou inconstante,
Dona de todas vontades,
De nenhuma verdade.
Não quero muito,
Não sonho demais.
Só quero tudo:
O mundo,
E tudo mais.
Quero aquilo
Que sua mão não alcança.
Quero o lugar
Onde seus pés
Têm preguiça de ir.
O que anseio,
Você não quer ofertar.
O que desejo,
Nasce e morre em você.
Quero que lute,
Que alcance
Toda chance
De ser meu.
Quero que se lance
Nessa dança.
Que ainda que cansado,
(aí então, ainda mais)
Corra para me alcançar,
Me abraçar.
Minha carência é direcionada.
Só quero o todo
Não quero pedaços.
Esses, já cansei de colecionar.

Presente



Você deixou comigo.
E não me disse o que fazer.
Mas aí eu guardei,
E seu cheiro pra sempre ficou em mim.

Efêmera



Mas é que não me encaixo,
Não entro,
Não me acho
Nesse mundo
Que já era seu.
Queria ter um laço
Que amarrasse meus passos
Que me prendesse a você,
E não me deixasse vagar.
Ou mais espaço
Para que eu possa ficar.
Mas esse é todo o lugar
Que pode me oferecer.
Não quero ir.
Quero que me puxe
Que me embrulhe,
Que me proteja de mim.
Quero que me fale absurdos,
Que diga que sou tudo
Que sei que não sou.
Não quero imaginar
Que sou tão efêmera,
Tão breve
Como sei que sou.
Não agora.
Hoje, eu não entenderia.
Amanhã, começo a pensar.
Deixa passar.
Tão passageira...
Mas não entendo isso agora.
Por isso, caço por suas palavras,
Deliro que me peça que seja sua,
Só sua.
Que me impeça de ir a lugar algum.
Porque hoje,
Ainda não consigo acreditar
Que sou tão pouco.
Hoje só queria que algo mudasse,
E não me deixasse partir.