segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Surpresas



É quando menos se espera
Que a brisa, de repente, passa
E afaga o rosto cansado
E apaga os pingos do suor.
Como chuva no carnaval
Quando o calor é intenso,
Quando o frenesi é imenso
E tudo o que se quer, chegou.
Não há minutos contados
Para que o sol se ponha,
Para que a lua brilhe
Ou para que o dia se renove.
Mas então, outra vez,
Não é que ele teima em aparecer?
É quando menos se espera
Que o beija-flor, na janela
Causa um momento de excitação.
E a estrela, que se joga,
Sem hora marcada,
Sussurra aos distraídos
A fitarem o céu,
Que podem esperar pelas surpresas,
Contudo, sem nada esperar.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Vazia


Mas eu sei que passa
Sei que escapa
Por algum lugar,
Um dia,
Toda essa bagunça
Que agora mora em mim.
Sei que esvazio como balão
Que de repente murcha,
Com um furo quase inexistente
Aquele que ninguém jamais encontra.
Um dia, sem aviso,
Sem nenhum tipo de premonição,
Sei que ao acordar, nesse dia
Estarei vazia,
Estarei inteira,
Estarei repleta
Do que só há em mim.
Só que enquanto não chega
Esse dia que não sei qual é,
Procuro essa tal agulha,
Essa pontinha tão fina,
Que basta triscar
E para meu balão, não haverá cura.
Só um balão novo em seu lugar.
Só que dessa vez, encho bem devagar.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Brilho eterno...

 

Aquele dia mágico,
Momento único
De encontro uníssono
E instante conexão...
Quero apagar.
Quero esquecer
Cada momento,
Quero reviver
Aquela mesma cena
Sem você.
Quero voltar
E reescrever os dias.
E apagar de mim seus braços.
E expirar seu cheiro.
Seu toque, seu abraço,
Seu beijo sempre muito desejado
Enquanto minha boca caçava a sua...
Já não lembro mais.
Quero esquecer o som da sua tez.
E a cor de sua voz.
Birra? Insensatez?
Tanto faz.
Se outra vida eu tiver,
Vivo tudo outra vez,
Tropeço como for.
Só peço que apague
Esse encontro antes de acontecer.
Mesmo que você não existisse,
Mesmo que jamais tivesse sido inventado,
Anda assim,
Brilharia nessa mente vazia de você,
Ainda assim,
Você existiria em mim.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Identidade


Eu não pertenço,
Aqui, não me encaixo;
Eu não me acho,
Não sei quem sou.
Não me reconheço
Nessa pele que estou,
Neste lugar que era meu,
Nas manias que me perseguiam
Nas frases que eu dizia.
Tampouco me encontro
Nesse mundo que invado,
Nesse novo espaço,
Nesse mar de incertezas
Onde eu nunca me afogo.
A mim mesma ignoro
Ao tentar ser quem não sou;
Ou será essa minha nova versão?
Nesse caminho confuso,
Meus pés são insolentes;
Rebeldes, sem donos,
São desobedientes.
Sigo sem ritmo,
Vagando a esmo
Com um objetivo
E sem direção.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Fernweh



Um minuto sem ar,
Um instante infinito
De luta para recuperar o fôlego,
Para colocar as batidas
De volta em seu lugar.
De repente, uma mão gigante,
A maior em todo o mundo,
Aperta, sem dó,
Sem padecimento,
Tudo o que há dentro de mim.
Encolho, sem fim,
Até virar ao avesso.
Enfraqueço e até esqueço
Que tenho que fingir.
Mas é só um minuto sem ar.
E logo volto a respirar.
Um minuto sem fim...
É falta do que nunca tive.
Saudade do que não existiu.
Vontade de ter de volta
O que eu jamais vivi.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Você



Quando você vier,
Quando você trouxer
Tudo aquilo
Que eu nunca soube
Que sempre quis,
Sei que vou provar
Das mais diversas cores,
Viver os mais variados sabores
Que jamais, antes,
Existiram pra mim.
Sei que aquela música
Finalmente fará sentido,
Finalmente terá ritmo,
Caberá perfeitamente em mim.
Saberei qual cheiro
Quero usar como perfume
E em quais braços
Eu quero morar.
Nesse dia, então, meus versos
Não estarão mais desgovernados,
Saberão exatamente os passos
Que querem seguir.
E lembrarei que desde o começo,
Guardei tudo só pra sua chegada.
Pois cada passo e cada tropeço,
Me puxam mais para você.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Além


Psiu, você mesmo,
Dá licença,
Quero passar.
Pode chegar um pouco pro lado,
Ficar afastado
Que eu quero caminhar?
Pode, por gentileza,
Sair da minha frente,
Ir para a direita,
Não, não, para a esquerda.
Quer saber?
Tanto faz.
Já não me importa...
Só quero seguir.
Ei, você me escuta?
Te perturbo tanto
Quanto me perturba.
Então, só chega um pouco pra lá.
Sei que é estreito,
Mas preciso passar.
Quero ver além.
Preciso respirar.
Cansei dessa vista,
Gastei um espasmo da minha vida
Nesse palmo, em frente a mim.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Indecisão




Não sei o que espero
Disso que nunca vem.
Não imagino mais castelos,
Você não veste mais armaduras,
Soube que pode se ferir.
Não encontro mais aquele
Quem achei que fosse este
Pra quem poemas escrevi.
Dentro dessa sua máscara,
Depois de tantas trocas unilaterais,
Percebi, ainda a tempo,
Descobri que não sou íntima
Nem de um canto do seu olhar.
É fachada, quimera,
Sol na madrugada,
Alucinação para viajante sedento.
Seria a sua proteção?
Já não sei por que espero,
Não sei por que ainda quero
Que finalmente canse desse vai-e-vém.