terça-feira, 28 de junho de 2011

Aceita


Desembrulha,
Desenlaça a fita,
Arranca o papel,
Abre a caixa.
É seu.
Também é meu,
Sou eu.
Agora é seu.
Não peça pra trocar.
Não tente mudar as cores,
Tirar as peças de lugar.
Apenas queira.
Com um olhar alheio,
Aceita.
Ou deixa ser só meu,
Esse tanto que é estranho até para mim.
Contudo, caso queira mesmo assim,
Com os arranhões e desgaste do tempo,
Caso aceite como é,
Não precisa embalar o seu.
Caso aceite da forma que foi revelado,
Entregue o que tem sem laços ou fitas
Não coloque em uma caixa bonita.
Não embale e não mascare.
Aceite o que sou,
E quererei todas partes de você.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Escuridão



Tinha medo do escuro.
Dos fantasmas que me perseguiam,
Das sombras que surgiam,
Enquanto, distraída,
Buscava refúgio.
Medo da ausência de luz.
De afundar-me na presença do desconhecido,
De ser obrigada a aguçar meus sentidos.
Ao sentir o tato guiar o caminho,
Sentia a pele arrepiar.
Um dia, a luz me cegou.
O dia não tinha fim,
A noite não me acarinhava.
Fugindo da luz intensa,
Fechei os olhos...
E encontrei.
A escuridão
Me acolhe,
Me preenche,
Me completa.
Me encontrei.
Uma parte de mim
Que só a escuridão pode revelar.
Um pedaço do que sou,
Que não posso vestir.
Uma face de mim.
Uma das tantas,
Infinitas que sou.
Visto uma máscara, dia após dia,
Para à luz do dia, mostrar outra de mim.

sábado, 11 de junho de 2011

Mais



Quero cair.
Uma queda livre.
Sentir cada sopro,
Cada canto do meu corpo
Atritar contra o vento.
Quero sentir,
No momento sem tempo,
Os pés saírem do chão,
A insegurança me tomar,
O desconhecido me invadir.
Em correntes aceleradas,
Rítmicas, alternadas
Num compasso sem padrão,
Quero sentir
O ritmo da presença
Da ausência gravitacional
Quando a implosão do universo
Acontecer dentro de mim.
Quero mais que o chão...
Mais que o céu,
Muito mais que o ar.
Quero cair.
Não me impeça,
Não me salve
Não quero guarida.
Quero cair.

sábado, 4 de junho de 2011

Busca



Deixe-me ser,
Sentir e causar.
Sem momentos certos,
Sem caminhos trilhados,
Sem carinhos forçados,
Sem olhares rasgados.
Deixe-me fluir,
Saber-me quem sou.
Querer mais que o raso,
Agir antes do desejo,
Mergulhar no que almejo
Sem cuidados, sem desvelo.
Quero ver o eclipse do mar,
Me permitir.
Me libertar.
Vou me aventurar em qualquer jornada
Sem saber qual o destino me espera.
Sem criar trilhas para voltar.
Meu tempo é sempre presente.
Minha madrugada não tem manhã.
Minha noite é sempre enluarada.
E as estrelas... são eternas convidadas.